MENSAGEM

"As raízes do estudo são amargas, mas seus frutos são doces." (Aristóteles)

Trovadorismo




Fonte: http://www.google.com.br...org/wikipedia/commons/thumb...BJGOSfgU7HFeucM%3A. Acesso dia 25/08/13


Cumpre dizer, antes de tudo, que o Trovadorismo se manifestou na Idade Média, período este que teve início com o fim do Império Romano (destruído no século V com a invasão dos bárbaros vindos do norte da Europa), e se estendeu até o século XV, quando se deu a época do Renascimento. Nesse sentido, o artigo ora em questão tem por finalidade abordar acerca do contexto histórico-social, cultural e artístico que tanto demarcou este importante período da arte literária.

No que diz respeito ao aspecto econômico, toda a Europa dessa época sofria com as sucessivas invasões dos povos germânicos, fato este que culminava em inúmeras guerras. Nessa conjuntura desenvolveu-se o sistema econômico denominado de feudalismo, no qual o direito de governar se concentrava somente nas mãos do senhor feudal, o qual mantinha plenos poderes sobre todos os seus servos e vassalos que trabalhavam em suas terras. Este senhor, também chamado de suserano, cedia a posse de terras a um vassalo, que se comprometia a cultivá-las, repassando, assim, parte da produção ao dono do feudo. Em troca dessa fidelidade e trabalho, os servos contavam com a proteção militar e judicial, no caso de possíveis ataques e invasões. A essa relação subordinada dava-se o nome de vassalagem.

Quanto ao contexto cultural e artístico, podemos afirmar que toda a Idade Média foi fortemente influenciada pela Igreja, a qual detinha o poder político e econômico, mantendo-se acima até de toda a nobreza feudal. Nesse ínterim, figurava uma visão de mundo baseada tão somente no teocentrismo, cuja ideologia afirmava que Deus era o centro de todas as coisas. Assim, o homem mantinha-se totalmente crédulo e religioso, cujos posicionamentos estavam sempre à mercê da vontade divina, assim como todos os fenômenos naturais.

Na arquitetura, toda a produção artística esteve voltada para a construção de igrejas, mosteiros, abadias e catedrais, tanto na Alta Idade Média, na qual predominou o estilo romântico, quanto na Baixa Idade Média, predominando o estilo gótico. No que tange às produções literárias, todas elas eram feitas em galego-português, denominadas de cantigas.

No intuito de retratar a vida aristocrática nas cortes portuguesas, as cantigas receberam influência de um tipo de poesia originário da Provença – região sul da França, daí o nome de poesia provençal –, como também da poesia popular, ligada à música e à dança. No que tange à temática elas estavam relacionadas a determinados valores culturais e a certos tipos de comportamento difundidos pela cavalaria feudal, que até então lutava nas Cruzadas no intuito de resgatar a Terra Santa do domínio dos mouros. Percebe-se, portanto, que nas cantigas prevaleciam distintos propósitos: havia aquelas em que se manifestavam juras de amor feitas à mulher do cavaleiro, outras em que predominava o sofrimento de amor da jovem em razão de o namorado ter partido para as Cruzadas, e ainda outras, em que a intenção era descrever, de forma irônica, os costumes da sociedade portuguesa, então vigente. Assim, em virtude do aspecto que apresentavam, as cantigas se subdividiam em:
CANTIGAS LÍRICAS             DE AMOR
                                                                       DE AMIGO

CANTIGAS SATÍRICAS              DE ESCÁRNIO
                                                                                DE MALDIZER



Cantigas de amor
O sentimento oriundo da submissão entre o servo e o senhor feudal transformou-se no que chamamos de vassalagem amorosa, preconizando, assim, um amor cortês. O amante vive sempre em estado de sofrimento, também chamado de coita, visto que não é correspondido. Ainda assim dedica à mulher amada (senhor) fidelidade, respeito e submissão. Nesse cenário, a mulher é tida como um ser inatingível, à qual o cavaleiro deseja servir como vassalo. A título de ilustração, observemos, pois, um exemplo:

Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,

entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.

                                  Paio Soares de Taveirós


Vocabulário:
Nom me sei parelha: não conheço ninguém igual a mim.
Mentre: enquanto.
Ca: pois.
Branca e vermelha: a cor branca da pele, contrastando com o vermelho do rosto, rosada.
Retraya: descreva, pinte, retrate.
En saya: na intimidade; sem manto.
Que: pois.
Des: desde.
Semelha: parece.
D’haver eu por vós: que eu vos cubra.
Guarvaya: manto vermelho que geralmente é usado pela nobreza.
Alfaya: presente.
Valia d’ua correa: objeto de pequeno valor.


Cantigas de amigo
Surgidas na própria Península Ibérica, as cantigas de amigo eram inspiradas em cantigas populares, fato que as concebe como sendo mais ricas e mais variadas no que diz respeito à temática e à forma, além de serem mais antigas. Diferentemente da cantiga de amor, na qual o sentimento expresso é masculino, a cantiga de amigo é expressa em uma voz feminina, embora seja de autoria masculina, em virtude de que naquela época às mulheres não era concedido o direito de alfabetização.

Tais cantigas tinham como cenário a vida campesina ou nas aldeias, e geralmente exprimiam o sofrimento da mulher separada de seu amado (também chamado de amigo), vivendo sempre ausente em virtude de guerras ou viagens inexplicadas. O eu lírico, materializado pela voz feminina, sempre tinha um confidente com o qual compartilhava seus sentimentos, representado pela figura da mãe, amigas ou os próprios elementos da natureza, tais como pássaros, fontes, árvores ou o mar. 

Constatemos um exemplo:
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(...)                                                            
D. Dinis

Cantigas satíricas
De origem popular, essas cantigas retratavam uma temática originária de assuntos proferidos nas ruas, praças e feiras. Tendo como suporte o mundo boêmio e marginal dos jograis, fidalgos, bailarinas, artistas da corte, aos quais se misturavam até mesmo reis e religiosos, tinham por finalidade retratar os usos e costumes da época por meio de uma crítica mordaz. Assim, havia duas categorias: a de escárnio e a de maldizer.

Apesar de a diferença entre ambas ser sutil, as cantigas de escárnio eram aquelas em que a crítica não era feita de forma direta. Rebuscadas de uma linguagem conotativa, não indicavam o nome da pessoa satirizada. Verifiquemos:
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade

Nas cantigas de maldizer, como bem nos retrata o nome, a crítica era feita de maneira direta, e mencionava o nome da pessoa satirizada. Assim, envolvidas por uma linguagem chula, destacavam-se palavrões, geralmente envoltos por um tom de obscenidade, fazendo referência a situações relacionadas a adultério, prostituição, imoralidade dos padres, entre outros aspectos. Vejamos, pois:
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês

Fonte:  http://www.brasilescola.com/literatura/trovadorismo.htm. Acesso dia 25/08/13.



Porém, o trovadorismo não ficou somente na poesia, vieram a seguir asnovelas de cavalaria, que derivaram das gestas francesas, que eram poesias de temas guerreiros, com os seus heróis cavaleiros em aventuras perigosas que lutavam para defender o bem e obter a vitória sobre o mal. Deixaram, então, de serem manifestadas em versos para o serem em prosa e, ao invés de cantadas passaram a ser lidas.

Novelas de cavalaria em Portugal

Grandes chroniques RolandAs novelas de cavalaria  chegaram a Portugal no século XIII, quando na época seu rei era Afonso III e permeavam na fidalguia e realeza. Como originárias da França, os relatos eram traduzidos, mas as cópias sofriam modificações para que se adaptassem à cultura e história portuguesa. Por esse tempo, não há conhecimento de nenhuma novela portuguesa por excelência: todas vinham do país francês.
  

Autoria

Essas narrativas, de modo geral, não constam o nome de seu autor. Serviam como verdadeira divulgação das Cruzadas, como maneira de auxiliar na propagação da fé cristã e conquistar a simpatia da população ao movimento.
As novelas agradavam a todos positivamente e influenciaram muito no comportamento e rotina da população nessa época.
Dentre as que mais percorriam os meios portugueses estavam as novelas Amandis de Gaula e A Demanda do Santo Graal.

Ciclos das novelas de cavalaria

Por convenção a divisão ficou assim estabelecida:
Ciclo bretão ou arturiano, tendo como protagonistas o Rei Artur e seus cavaleiros.
Ciclo carolíngio, com Carlos Magno e os doze pares de França.
Ciclos Clássicos, relacionados às novelas de temas Greco-latinos.
Tendo-se em conta a Literatura Portuguesa, é contraditória essa divisão, pois somente o ciclo arturiano deixou sua passagem em Portugal. Os demais ciclos, embora conhecidos e tendo deixado algumas marcas, passaram somente em forma de poesia e, também, por não haver conhecimento de alguma novela do ciclo carolíngio ou clássico.

Novelas de cavalaria mais importantes

Pintura de cavaleiros adorando o santo graalO que se tem conhecimento é que na Biblioteca de D. Duarte – 1391 a 1438, haviam escritos de algumas novelas, tais como Tristão, o Livro de Galaax e o Mago Merlim. Isso comprova a consideração por essas novelas, bem como, a influência no comportamento e costumes dos frequentadores da realeza nos palácios portugueses. Com exceção de Amadis de Gaula ficaram somente: História de Merlim, José de Arimatéia e a Demanda do Santo Graal.
A novela História de Merlim existe somente na tradução em espanhol, pois na língua portuguesa, ela desapareceu. José de Arimatéia chegou a ser publicada em 1967, com tradução advinda do Século XIV. Juntos a ela, a História de Merlim e A Demanda do Santo Graal são as novelas que ficaram até hoje.
Nas novelas evidencia-se a figura do cavaleiro medieval conforme os padrões da Igreja Católica, por quem ele se dedica: casto, fiel, dedicado e pronto a qualquer sacrifício na defesa da honra cristã.

Cancioneiros

Sendo transmitida oralmente, é natural que muito da poesia trovadoresca acabasse   
desaparecendo, sobretudo antes de 1198. Com o tempo, a fim de avivar a 
memória incapaz de reter várias composições, as letras passaram a ser transcrita
s em pequenos cadernos de apontamentos. Mais adiante, com o objectivo de 
resguardá-las definitivamente contra qualquer extravio, foram postas em 
cancioneiro, isto é, colectâneas de canções, sempre por ordem e graça de 
um mecenas, especialmente o rei.

Dos vários cancioneiros que nos ficaram (na biblioteca de D. Duarte havia 
o Livro de Trovas de D. Afonso ou de El-Rei e o Livro de Trovas de D. Dinis,
 mas perderam-se), três merecem especial relevo, por sua importância 
numérica e qualitativa:
  • Cancioneiro da Ajuda, composto no reinado de Afonso III                                                                     (fins do século XIII), o que exclui a contribuição de D. Dinis                                                                 (reinou entre 1268 e 1325 e foi chamado Rei Trovador) ;                                                                          contém 310 cantigas, quase todas de amor;
  • Cancioneiro da Biblioteca Nacional (também chamado Colocci-Brancuti, homenagem a seus dois possuidores italianos, dos quais Brancuti foi o último), é, uma cópia italiana do século XVI, possivelmente de original do século anterior; contém 1 647 cantigas, de todos os tipos, e engloba trovadores dos reinados de Afonso III e de D. Dinis;
  • Cancioneiro da Vaticana (o nome lhe vem de ter sido descoberto na Biblioteca do Vaticano, em Roma), também cópia italiana do século XVI, de original do século anterior, inclui 1205 cantigas de escárnio e de maldizer, de amor e de amigo.

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